A Defesa da Fé



Os primeiros cristãos consideravam a vida neste mundo como algo transitório, como uma jornada que se direcionava ao encontro com o Senhor, e que lhes ajudava a ver as luzes, prazeres e tentações apresentadas pelo mundo, como algo a ser evitado por causa da glória vindoura preparada para aqueles que amavam o Senhor de maneira inquebrantável. Para eles, sofrer por Cristo era algo natural e desejável, porque demonstrava que realmente eram discípulos do Messias. As palavras de Jesus: "o mundo vos odiará" não eram palavras vazias, era a realidade do dia a dia. E eles se sentiam felizes de serem tenidos por dignos de sofrer pela causa do Evangelho, porque assim também perseguiram os profetas e apóstolos antes deles.

Para estes homens, defender a fé dos ataques fazia parte da vida, porque era assim que eles conseguiam sobreviver às embestidas do governo (por um lado) ou dos filósofos (pelo outro) contra a fé. Entre cartas, encontros, discursos e embates, os cristãos foram sobressaindo e vencendo a cada momento, apesar das mortes e torturas que outros sofriam por amor a Cristo. Cada passo era dado na fé, mas era firme: cada triunfo era uma conquista. A cada dia se podia ver a misericórdia de Deus brilhando no meio das trevas, do paganismo e das heresias, levando salvação e vida eterna a corações endurecidos, sendo transformados pelo poder do Espírito Santo. 

O cristianismo era como aquela massa de pão, que quanto mais se bate, mais ela cresce.

Porém, os tempos mudaram, as leis se tornaram mais brandas, a sociedade se tornou maioritária, e nominalmente, cristã, assim como os governantes. Os líderes cristãos experimentaram a paz, o poder e a relevância nunca antes vista. E muitos deles, ao invés de usarem a nova realidade para influenciar o resto do mundo, e avançar o Evangelho até onde homem algum tinha chegado, se corromperam e desvirtuaram o cristianismo, criando um sincretismo da fé e permitindo que homens reprovados ocupassem cargos e renome.

A Igreja passou a se tornar uma Laodicéia vivente, dizendo que estava viva, estava morta na mundanalidade, na opulência e na corrpução. Ela cresceu até se converter na fé dominante da sociedade, mas agora era algo diferente da original: sincrética, afastada da verdade do Evangelho, nominal e vazia. Porém, alguns homens e mulheres, lamentando o tempo que viviam, oravam, clamavam e pregavam a eterna mensagem da vida; eles foram silenciados por uma multidão que não queria mudança nem arrependimento, e por líderes que almejavam mais e mais poder, seja ele civil, religioso ou - ainda melhor para eles - ambos.

Isso é o resumo dos primeiros séculos do cristianismo até a Reforma, mas também é o panorama da Igreja Evangélica presente: uma história gloriosa, de crescimento, de multiplicação, de conversões sinceras, com famílias prostradas aos pés de Cristo, bares fechados, bandidos transformados, além de histórias de sofrimento, perseguições e lutas. Porém, com o passar do tempo ela foi aceita pela sociedade, e a Igreja perdeu seu ímpetu missionário, se transformando numa instituição sem vida e vazia, porque os valores e princípios do Reino de Deus foram substituídos pelos valores e princípios do mundo. Seus membros perderam a realidade de uma fé vibrante, real e poderosa, para cair no abstracionismo da dicotomia, deixando a fé somente para o âmbito particular e eclesiástico, vivendo o restante dos seus dias completamente alienados do Deus que confessam crer.

Vivemos, por outro lado, um renascer do ódio e da opinião contrária ao cristianismo por parte dos políticos, dos filósofos e da mídia. O deboche, a satirização e os comentários de baixo calão contra a fé cristã estão se tornando cada vez mais visíveis e aceitos pela sociedade. Em muitos casos isso acontece por causa do mal exemplo de alguns, mas logo são estendidos, sem dor nem piedade, a toda a cristandade. As seitas vem contribuíndo na multiplicação desse estado de animadversão à fé evangélica, mas em nada deveria se estender esse sentimento de rechaço aos que, vivendo um cristianismo genuíno, demonstram que não navegam nas mesmas águas do engano.

Felizmente, assim como naquela época, hoje temos o remanescente, que permanece fiel a Deus e aos princípios básicos da fé evangélica. Eles lutam a boa batalha da fé, confrontam os lobos disfarçados de ovelha que tentam penetrar no rebanho, e desmascaram os falsos profetas de dentro. Eles se levantam contra toda filosofia e ideologia contrária às Escrituras, e com amor e firmeza proclamam a Singularidade e Suficiência de Cristo sobre todo pensamento e fortaleza. Homens de quem o mundo não é digno, porque entendem que não pertencem a este mundo, embora vivam e se relacionem com ele da mesma forma que um estrangeiro o faz no país que o acolheu.

Eles olham para a vida cristã como um campo de batalha, onde lutam contra os desejos pecaminosos da alma, e contra o sistema que se levanta contra eles, insuflados pelo espírito que opera nos filhos da desobediência, que os motiva para servirem de tropeço ao povo de Deus. O povo de Deus consegue vencer, porque fiel é Deus que dá vitória ao seu povo! O cristão batalha com armas de ataque e de defesa, veste a armadura de Deus e se enfrenta no dia mau, permanecendo de pé diante das adversidade, com a doçura e a firmeza daquele que sabe que a vitória está do lado do povo de Deus.

Por isso, o remanescente deve saber se defender, aliás, deve saber defender a fé que foi depositada neles pela graça: o tesouro de grande valor, a pérola preciosa, o mais precioso presente que homem algum merece receber na vida, mas que nos foi dado pela graça preciosa de Cristo. Uma multidão de testemunhas, que começa em Abel e chega até os dias de hoje, estão mostrando as pissadas de um filho de Deus para os que vivem neste presente, para que não escatimem sua vida como preciosa com tal de proclamar Cristo até os confins da terra.

Como defender a fé numa sociedade relativista, violenta e pagã? Pedro nos escreve como podemos defender a fé em todos os âmbitos da vida, sem importar o lugar, as circunstâncias e o público.

1Pe 3:14-17  Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados;  (15)  antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,  (16)  fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo,  (17)  porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal.

Toda defesa da fé inicia num coração santificado, porque não se pode agir em função de reações cheias de ódio, maldade ou rancor, sabendo que quem reina no coração é o próprio Senhor! O cristão deve aprender a responder a todo aquele que lhe pedir razão da fé, porque o cristianismo é uma fé que se fortalece no estúdio e na leitura das Escrituras e de boa literatura, assim como na participação ativa do ensino na Igreja local. Da mesma forma, o caráter do cristão, na hora de responder, deve refletir o caráter de Cristo, para que os contenciosos se calem e se envergonhem por si mesmos. Porque sofrer por Cristo sempre valerá a pena.

Devemos criar uma cultura que valorize o sofrimento por Cristo como algo desejável, digno e que deve despertar em nós a alegria do Senhor, porque nos tormaremos mais semelhantes ao Senhor a cada sofimento que levamos pela sua causa. 

Não podemos antecipar as respostas das pessoas, infelizmente nem todos vão reagir com amabilidade ou doçura em arrependimento e fé em Cristo, mesmo que sejamos bem intencionados. Pessoas podem se sentir ofendidas quando compartilhamos de Cristo e mostramos a realidade do seu pecado. Devemos entender que Deus julgará essas pessoas na sua justiça e no seu tempo, mas em nenhum momento nos é concedida a vingança como meio de retribuição. Como cristãos, entendemos que o sofrimento por Cristo é a maior glória, e morrer por Cristo será a evidência final da nossa fé nele.

Vivemos tempos perigosos, onde o movimento anticristão está se propagando dentro do nosso país. O fortalecimento da nossa fé será a nossa melhor arma de ataque e defesa perante a adversidade. Para isso, voltar às origens da nossa fé, às Escrituras, à Igreja local, ao partir do pão e das orações entre nós são recursos divinos para que possamos, em unidade, caminhar no Poder do Espírito para suportar os tempos que virão. 

O cristianismo nunca foi para covardes e medrosos, o Reino de Deus sofre violência e somente os valentes se apoderam dele. Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de poder, amor e domínio próprio, para testemunhar e dar a vida por aquilo que cremos. O Espírito de Deus está em nós para nos capacitar a falar com ousadia, sem importar as consequências ou as reações dos outros, confiantes em que Deus nos livrará, sem importar como isso acontecerá!

Porque a Igreja, em Deus, é como aquela massa de pão, que quanto mais se bate, mais ela cresce.

Defenda sua fé sem medo nem temor. Está na hora de que o remanescente de Deus se levante!

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