Por que temos medo da Grande Tribulação?


Slm 23:4  Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam.

A Igreja vive na tensão do  e do ainda não do Reino de Deus, uma tensão que se reflete na esperança gloriosa do retorno de Jesus. Nessa tensão, muitos acreditam que a Igreja, na sua jornada gloriosa e vitoriosa neste mundo, será levantada pelo Senhor antes do estabelecimento do Reino vindouro, justamente antes da aparição do Anticristo e do que o próprio Jesus denominou de "Grande Tribulação" (θλῖψις μεγάλη) em Mateus 24:4-28 e textos paralelos. O argumento deles é que a Grande Tribulação será o tempo em que Deus julgará o mundo impenitente, enquanto os justos estarão desfrutando das Bodas do Cordeiro no céu, antes do reino milenar de Cristo, onde reinará e regerá as nações com vara de ferro. O texto chave é Apocalipse 3:10, onde está escrito que "Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra".

Agora, se analisarmos o texto de Apocalipse, este não se refere à possibilidade da Igreja não estar presente na Grande Tribulação. A palavra guardar (τηρέω) para se referer ao aparente "livramento" da Igreja da Grande Tribulação é a mesma usada pelo próprio Cristo em Mt 28:20 para "guardar" todas as coisas que Ele ensinou, ou em 1 Ts 5:23 para falar que todo o nosso ser deve ser "conservado" irreprensível até o dia do nosso Senhor. Inclusive, está em João 17:15, onde Jesus pede para que os discípulos não sejam tirados do mundo, mas guardados (τηρέω) do mal. O texto de Apocalipse, então, não pode se referir a um "escape" da Igreja, no sentido dela "fugir" da Grande Tribulação, mas a uma preservação divina, uma guarda divina no meio da Tribulação. Para o Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, quando "no Apocalipse tereo, vinculado com logos ("palavra"), entole ("mandamento"), e pistis ("fé"), tem a força de conservar com firmeza uma confissão, tanto ao enfrentar a falsa doutrina quanto ao ir de encontro com a morte de mártir (2:26; 3:3,8,10; 12:17; 14:12)". Em momento algum, a palvra τηρέω tem o sentido de livrar dos perigos, mas de conservar o coração, de que os cristãos - como no caso da carta de Apocalipse - sejam guardados e preservados para vida no meio das tempestades e tribulações que iam sofrer.

Dito isso, podemos então imaginar as razões que levam a alguns a pensar no prétribulacionismo. Algumas razões são preocupações lícitas, principalmente dentro do nosso contexto evangélico: o enfraquecimento espiritual da Igreja e a falta de uma teologia firme que considere o sofrimento pelo Evangelho como algo inevitável, desejável e louvável; além do clima moral dentro das nossas congregações. Para essas pessoas, o pensamento é, basicamente, se em condições de paz não conseguimos firmeza em Cristo, como resistiremos se tivermos que passar pela Grande Tribulação? Outros acreditam, como consequência das preocupações dos primeiros, em assuntos menos teológicos, sendo mais especulativos: acreditam que a Igreja não passará porque Deus sempre livra os seus escolhidos e não permitirá que eles sofram algo que não é para eles; uma espécie de escape da dor e do sofrimento. O próprio Jesus, por outro lado, foi enfático com os discípulos sobre a realidade da perseguição no Sermão do Monte (Mt 5:10-12), nas palavras aos seus discípulos (Mt 10:16-25), no Sermão Profético (Mt 24:9-10), e no seu último sermão antes da paixão (João 15:18-27).

Somente para que tenhamos alguma ideia, alguns textos do Novo Testamento que fortalecem a ideia de que a Igreja, efetivamente, passará pela Grande Tribulação são Mt 24:21-31 (A Grande Tribulação terá santos presentes, e Cristo aparece depois dos eventos); 2 Ts 2:1-12 (o anticristo aparecerá antes do retorno de Cristo); Ap 7 (multidão de santos vindo da Grande Tribulação, a Igreja toda de acordo com 14:1-5); 11:1-14 (as duas testemunhas representam à Igreja); 13:5-8 (o anticristo fará guerra contra os santos).

A ideia de que a Igreja passe pela Grande Tribulação pode criar angústia no coração, e certa dose de desesperança, e essa preocupação eu considero que seja lícita por causa das razões enumeradas anteriormente. Porém, nós temos que lembrar que a preservação da Igreja na história, no meio de grandes perseguições externas e internas inclusive, somente aconteceu pela boa mão e misericórdia do Senhor. Os discípulos da Igreja dos primeiros séculos, sendo pequenos em número e sem ter muito poder de influência nos altos escalhões do Império, conseguiram pregar o Evangelho em tempos difíceis e sobre sentença de morte, alcançando gradativamente todos os estrátos sociais, e fazendo possível o que era humanamente impossível: encher a Europa, a África e a Ásia com a palavra do Senhor.

Quando se fala da Grande Tribulação, esquecemos que, nesse período, o Evangelho do Reino será pregado a todas as nações (Mt 24:14), o que nos fala de um movimento missionário massivo, possivelmente movido pela perseguição (algo assim como aconteceu com a Igreja de Jerusalém em Atos 8); onde as nações terão a oportunidade de ouvir sobre Jesus Cristo. Considero que devemos resgatar o caráter missiológico da Igreja, para fortalecer os nossos corações para esses dias que virão. Além de vermos um despertar espiritual de Israel nos últimos dias (Rm 11:11-26) que servirá como sinal do iminente retorno de Jesus.

Além, não podemos esquecer que, assim como está em Apocalipse 3:10, Deus preservará seu povo nesses dias. Não podemos imaginar como resistiremos, nem temos a segurança de quanto poderemos suportar situações semelhantes. Mas, podemos descansar naquele que prometeu seu auxílio nas tribulações (Mt 10:19,20) e que, mesmo na vida ou na morte, a nossa vida descansa na segurança eterna que temos em Jesus, através da sua morte e ressurreição, quem nos libertou e nos libertará da ira vindoura (1 Ts 1:10: cf Fil 1:20,21). A nossa confiança está no Senhor.

Por último, como cristãos devemos lembrar que o nosso foco não é a Grande Tribulação, mas o retorno triunfante de Cristo, descendo das nuvens com poder e grande glória, para estabelecer seu reino de maneira definitiva, e vencer o último inimigo: a morte. Para nós, as tribulações, dificuldades, rejeições e abusos sofridos pelos poderosos deste mundo devem criar um maior e mais excelso peso de glória, porque compreendemos através do sofrimento de que este mundo não é o nosso lugar, e aguardamos com paciência pelos Novos Céus e Nova Terra, onde habita a justiça (2 P 3:1-13). A pregação do Evangelho deve ser a prioridade, a proclamação do reino de Deus no  e ainda não, para preparar os corações para o Dia do Retorno do Rei dos reis.

Por isso, fiquemos com as palavras do apóstolo Pedro

2Pe 3:11-13  Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade,  (12)  esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão.  (13)  Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça.

Maranata! Ora vem Senhor Jesus

Pr Roberto José Arias Quintero

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