Deve-se defender o Progressismo exacerbadamente?

A cosmovisão é, em resumidas contas, a maneira como enxergamos e interpretamos a existência, envolvendo o material e imaterial, o visível e invisível e o físico e espiritual. Isso afeta a minha vida, fé e propósito. Somos seres pensantes e ativos na procura de respostas aos nossos questionamentos e desafios diários e futuros. Deus nos fez assim.

O homem, como ser pecador, procura, através da sua observação e experiência, interpretar o mundo na sua perspectiva falha e limitada e, ao mesmo tempo, aceitando as palavras da serpente no Éden, que determina o que é certo e errado, como si de um deus se tratasse.

Assim, temos as ideologias e filosofias, tentativas do homem na procura do ser divino interior. O que já podemos ver que é um fracasso rotundo. Toda vez que a humanidade procura construir sua Babel particular, o Altíssimo vem e confunde as línguas das pessoas, seus entendimentos se transtornam, divisões e contendas aparecem e os impérios caem aparentemente pelo seu próprio peso, mas sabemos que, de acordo com Daniel 2, todo Império é cortado "pela pedra não cortada por mão humana": o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, o Soberano Deus do Universo.

No meu post anterior (click aqui), fiz uma série de questionamentos sobre o movimento Conservador e agora vamos com o Progressismo. 

Antes, quero repetir aqui dois parágrafos escritos nesse post porque são relevantes para realizarmos as nossas perguntas e questionamentos. 

Todo movimento ideológico tenta responder questões soteriológicas e escatológicas, por isso eles podem ser avaliados como credos ou postulados de fé. Eles acreditam salvar a humanidade e, ao mesmo tempo apontam para uma esperança presente e futura, garantindo as melhores condições de vida, e um futuro promissor. São religiões humanistas que tentam penetrar no cristianismo influenciando a cosmovisão cristã ao ponto de querer interpretar a fé. 

Como cristãos, devemos ter um pensamento crítico contra os movimentos que imperam na sociedade, inclusive com aqueles que concordamos, porque não podemos, em nome deles, revestir a nossa fé de uma roupagem que uniformiza a fé a uma ideologia, tornando os crentes homogêneos quanto a pensamentos ideológicos. Sendo a Igreja um Corpo amplo, onde há lugar para os debates, o intercâmbio de ideias e filosofias que caibam dentro da diversidade de vidas e manifestações de fé, nos limites impostos pelas Escrituras.

O progressismo deriva do movimento de esquerda, juntamente com o socialismo e comunismo, e não podemos separar essa tríade irmanada filosófica (embora alguns dos progressistas tentem separá-las, por causa do histórico de fome, perseguição e atraso que seus maiores exponentes criaram ao longo da história: URSS, Coréia do Norte, China, Cuba). 

Muitos cristãos têm abraçado seu discurso de ajuda ao pobre, uma interpretação mais contemporânea dos Evangelhos, uma rejeição dos países imperialistas e a luta de classes. E nesses aspectos começaremos os nossos questionamentos.

  • Ajudar ao pobre, biblicamente, é dar dinheiro dos nossos impostos livremente? A ajuda ao pobre, biblicamente, é algo amplo e progressivo, que procura a independência do indivíduo para que alcance a dignidade suficiente para ganhar o seu pão com o suor da sua fronte (Gn 2). Tanto no Antigo, como no Novo Testamento, recebiam ajuda as viúvas, os estrangeiros e os órfãos, porque eram grupos vulneráveis e impossibilitados de crescer na sociedade. O Novo Testamento restringe ainda mais a ajuda, tornando-a quase exclusivamente para os membros cristãos, regenerados, das Igrejas locais (1 Tim 5).
  • Aumentar os impostos, taxar livremente, é o meio para crescer como nação? No tempo dos reis de Israel, Deus mesmo estabeleceu um imposto de 10% para o sustento do reinado, o exército e a administração, além de poder empregar quem ele quiser (1 Samuel 8.11-17). Um excesso no valor dos impostos criou a separação da nação de Israel no reinado de Roboão (1 R 12.1-24). Pensar que aumentar os impostos dará crescimento à nação é um tiro no pé: mais impostos será menos investimentos, o que leva a uma diminuição da taxa de criação de impostos.
  • A segmentação da sociedade é o caminho para a reconciliação nacional? É comum ouvir dos progressistas a ênfase na divisão de classes e o uso de frases como "luta", "defesa", "conquistar" e "invadir". Isso em relação à espaços sociais, ao racismo, ao agronegócio e à Bolsa. Falar da sociedade por cor de pele e sexo, o tempo todo, é contra o entendimento bíblico da unidade da raça e da criação do homem à Imagem e Semelhança de Deus. Todos fomos criados pelo Criador iguais, dignos e preciosos, sem importar a cor ou o sexo. O ser humano é o ser humano, sem importar rasgos físicos ou biológicos. Para lutar contra o racismo e xenofobia de uma maneira bíblica, temos que falar da Imago Dei e a dignidade do ser, sendo irmãos por criação e reconciliados com Deus e o próximo através da cruz de Cristo (Ef 2); e não motivar o rancor, o ódio de classes e a · imposição de uma ideologia que fratura ao invés de unir.
  • Um cristão pode estar a favor da pauta de gênero? Sabemos que Deus criou homem e mulher (Gn 1, 2) e o testemunho bíblico é farto, tanto no Antigo como no Novo Testamento, a respeito do juízo de Deus sobre os que vivem e defendem aqueles que desejam viver de acordo com as suas paixões. Pensar que isso pode ser aceito quando, para o Juiz de toda a terra é abominação, é simplesmente algo que um cristão não pode aceitar de braços abertos. São tempos de chorar, lamentar, orar e em amor ensinar o padrão bíblico da criação. Não podemos compactuar neste ponto, pois é simplesmente inaceitável.
  • Um cristão pode aceitar a intervenção do Estado na família? Deus criou homem e mulher para que, em união e como resultado do amor, criarem seus filhos. Pensar que o Estado pode determinar o que é família é acreditar que ele é o deus deste mundo, quem pode determinar o que é certo e errado.
  • Um cristão pode crer num Estado absoluto e poderoso? Um Estado que intervém na sociedade e que entra nas pautas de moral, usos, costumes e vida social é, na prática, um Ente Religioso, que penetra na estrutura da sociedade para controlar e fiscalizar cada passo dos seus habitantes. Romanos 13 estabelece que o fim do Estado é criar leis que punam o infrator para termos uma sociedade pacífica. Pensar além disso é atribuir aos Poderes Constituídos o lugar de Deus. É a Antropocracia.
  • O Estado pode interferir na leitura e interpretação da Bíblia? A interpretação e pregação das Escrituras é a base do culto cristão. Se o Estado tenta regularizar a prática da liberdade religiosa, restringindo a pregação e manifestação pública da fé cristã, ele vai além das suas funções. Em 1 Tim 2, o apóstolo Paulo escreve ao seu discípulo que devemos orar para que a relação Igreja-Estado se dê em termos pacíficos de convivência e harmonia, para que a Igreja possa exercer sua função profética. À restrição disso, ao estabelecer que a fé é do âmbito privado e particular, é algo que deve ser condenado por todos os cristãos.
  • Ter uma visão "contemporânea" da interpretação bíblica é o certo? Os teólogos que aderem ao movimento progressista lutam para criarem interpretações regionais da Bíblia. Para eles, existem teologias norte-americanas, europeias, latino-americanas, branca, negra, para as mulheres e para todos. Todas são irreconciliáveis e devem lutar contra a dominação vinda do Norte. Não podemos negar que existem uma diversidade de escolas de pensamentos dentro do cristianismo, mas todas derivam do mesmo Livro Sagrado e devem procurar, no diálogo, manter os princípios fundamentais e comuns à nossa fé. Porém, na reinterpretação que os teólogos progressistas realizam da fé, vemos divergências sobre conceitos básicos e elementares: Deus, pecado, expiação, salvação, Igreja e Esperança; o que os colocam dentro do que Paulo chamou de  outro evangelho em Gálatas 1. Na interpretação bíblica, a novidade sempre foi prejudicial à fé.
  • O que é pecado, salvação e esperança? Os teólogos da libertação definem pecado como "a injustiça social" e acreditam numa soteriologia onde Jesus veio para nos libertar do jugo opressor do imperialismo reinante (Boff). A teologia progressista adota esse postulado dos teólogos dissidentes católicos, dando nas suas mensagens uma ênfase na prática de políticas públicas, intervenção do Estado e ser contra os ricos para alcançar a graça de Deus. Se para o Conservador, os costumes e moralidade são meios de graça, para o Progressista, a graça é alcançada na ajuda do pobre, na luta de classes e no aprofundamento da divisão estrutural da sociedade. Em ambos os casos, a salvação é pelas obras e não pela obra expiatória, redentora e substitutiva de Jesus na cruz, onde o pecado foi condenado e a Ira de Deus foi satisfeita.
  • O movimento Progressista salvará o Brasil? Essa pergunta se responde da mesma forma em relação ao Conservadorismo. A Bíblia é clara nos seus postulados teológicos sobre salvação e esperança e ela está somente em Cristo e não nas filosofias. Devemos voltar nossos olhos a Jesus, e encontrar nele a esperança perdida.
  • O movimento Progressista pode criar uma cultura resistente ao Evangelho: uma sociedade onde não há limites morais e onde o pecado é um construto social, encontra uma forte resistência à mensagem do Evangelho, porque as pessoas não entendem  sua condição de pecadores, acreditam que Deus deve amá-las do jeito que são e assim desprezam a mensagem que enfatiza um Deus Santo, Justo e Verdadeiro, porque o padrão de Deus está fora do padrão do Estado, dos corações e do pecado humano.

Com o anteriormente exposto, me permita esclarecer algo para concluir. Eu creio que a Igreja, nos seus princípios bíblicos eternos, deve exercer uma forte influência na sociedade através da prática de boas obras, mas nunca deve promover o assistencialismo como saída da pobreza. Lembremos o caso da alimentação dos cinco mil. Quando o povo queria que Jesus lhes fornecesse pão para sempre, Ele lhes falou do Pão da Vida, o que gerou um esvaziamento da comunidade que seguia Jesus. Não podemos abrir mão do essencial: a pregação do Evangelho para vida eterna, reconciliação com Deus e com o próximo através da obra expiatória do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Essa mensagem devemos conservar, preservar, transmitir, pregar e ensinar nos púlpitos, nas casas, na rua, no trabalho, na escola e onde estivermos.

Não fomos chamados a pregar cultura. O nosso chamado é pregar Cristo como a única esperança para o nosso Brasil e o mundo. Não precisamos de uma nação que tenha princípios cristãos (embora seja desejável, obviamente!) para pregar o Evangelho, precisamos de uma Igreja que pregue sem se importar quem está em Brasília. Não precisamos nos associar ao movimento progressista para pregar a transformação que o Espírito dá, porque ela vem do coração, do encontro com Cristo, do arrependimento.

Soteriológica Escatológicamente a Igreja prega Cristo como Salvador e Rei. Isso deve ser inegociável, apesar das nossas inclinações ideológicas. Devemos exaltar o Rei dos Reis sobre toda tribo, língua e nação. Da mesma forma, como Igreja, temos que submeter todo pensamento e fortaleza a Cristo, porque Ele é o Salvador, o Redentor e o Libertador.

Ideologicamente, tenho uma inclinação não progressista (e acho que as minhas razões são mais do que evidentes), ao mesmo tempo que sou crítico dela porque entendo que ela não é suficiente para salvar à nação. Os pontos expostos anteriormente são um resumo de conversas com amigos, irmãos na fé, que compartilham as mesmas preocupações que tenho de criar uma mistura perigosa entre o conservadorismo e a fé. Porque nunca tivemos avivamentos assim e não podemos hoje pensar que o Brasil mudará se efetivamente o conservadorismo se implementar em Brasília.

Não busquemos uniformizar o Brasil a um pensamento ideológico. A nossa nação precisa de um encontro com Jesus, para que, dentro da nossa diversidade, possamos viver o Evangelho de maneira digna e maravilhosa, glorificando a Deus nas nossas vidas, ações e palavras, com todo o nosso ser.

Que haja em nós o mesmo desejo do apóstolo Paulo.

1Co 2:2  Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.

Que Deus tenha misericórdia de nós, e nos abençoe

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