A Igreja perante a polarização


 É fácil hoje virar parte dos movimentos que nos dividem, dentro da proliferação ideológica que vivemos.

Olhe ao seu redor e contemplará desolação e esperança, tudo misturado num omelete de pensamentos e ações. A tolerância, até pouco tempo pregada, foi entendendo de que não dá para viver num pluralismo exacerbado porque, mais cedo ou mais tarde, os que pregam essa ideia se encontraram com o dilema: se tudo é válido e não existem absolutos, ela se torna uma contradição em si mesma: porque se ela está certa, é um absoluto; e se estiver errada, pois tire você mesmo a conclusão!

Por isso, a radicalização das ideias era algo que aconteceria, porque quando os fundamentos desabam, não há prédio que aguente seu próprio peso.

Há vários anos, participando de uma oficina no meu país, a palestrante falou que se esperava a volta do movimento conservador e do restabelecimento das verdades absolutas, porque o mundo não suportava o caos filosófico dos anos 90 e 2000. Hoje vemos que nem demorou dez anos daquela conversa para ver os resultados.

O fundamento da nossa cultura obedece a um dualismo filosófico: cristianismo e cultura grega. E assim como a escultura de Daniel 2, ambos os pensamentos são contraditórios e impossíveis de unir, assim como o ferro não se mistura com o barro; portanto, a questão sempre foi saber quando desabaria a nossa civilização ocidental.

Com o fim do cristianismo bíblico como fundamento da sociedade, sobrou para a cultura grega dominar o ambiente. Porém, sabemos que o pensamento grego não e uniforme nos seus postulados, e a diversidade de filosofias e conceitos gerados pelos pensadores helenos não ajudam a manter a coesão. O que nos dá a chegada das novas ideologias, que não são novas, na verdade são roupagens novas dos antigos conceitos emanadas da conversa da serpente com Eva em Gênesis 3: o desejo do homem pelo poder divino.

E o cristianismo é um empecilho a ser tirado, mas não tudo, porque precisam da massa dos crentes para o cumprimento do seu propósito. Afinal de contas, somos seres religiosos e precisamos do místico e da espiritualidade para dar sentido à nossa existência.

As ideologias rejeitaram o cristianismo, pelo menos no seu fundamento teológico, mantendo as águas rasas do formalismo litúrgico, os modos, costumes e moral. Perdendo o mais importante: a essência da fé, a teologia voltada para o Deus Eterno e Soberano; o homem criado a imagem desse Deus, o pecado como destrutor da harmonia entre o homem e Deus, o homem com o próximo e o homem com seu entorno; Cristo como o sacrifício substituto, a oferta divina para expiar o homem através da propiciação realizada na cruz, onde obtivemos o perdão, a reconciliação e a vida eterna, sendo libertos da Ira divina por causa do pecado, tendo a presença do Espírito como garantia da nossa segurança eterna, e nos dando os meios de santificação; a Igreja como comunidade de fé, onde participamos da adoração coletiva e o estudo das Escrituras, além da comunhão dos santos e o partir do pão; por último neste resumo, a esperança eterna que temos em Deus, no novo céu e a nova terra, onde a justiça, paz e alegria serão plenas e eternas, vivendo sempre com o Eterno.

A perca da teologia, dentro do nosso meio, para favorecer uma pregação simplória, antropocêntrica e ideológica, fortalecem as divisões dentro da sociedade; contribuem ao eles contra nós no aspecto da luta de classes ou de pensamentos, e em nada glorifica a Deus, porque, afinal de contas, nos aliamos ao mundo nas suas filosofias e pensamentos, e isso é, de acordo com os Apóstolos Tiago e João, inimizade contra Deus, porque nos tornamos amigos do mundo.

A Igreja, que deveria a verdadeira Terceira Via dentro da polarização mundana, acaba tomando partido, e perde sua função profética neste mundo, apontando para a verdadeira esperança deste mundo: Jesus Cristo, quem morreu e ressuscitou para reconciliar o mundo com o Pai através da sua morte na cruz.

O Apóstolo Paulo mostra aos Coríntios e aos Efésios, que a Igreja tem como missão o restabelecimento da relação entre Deus e os homens, não através da volta a uma religião de formas e obras, que tanto o conservadorismo como o liberalismo desejam, mas pela salvação pela manifestação da graça de Deus em Cristo, através da reconciliação efetuada na cruz, onde a separação entre nós e o Senhor de Glória foram unidas através do sacrifício redentor do Cordeiro de Deus (2 Co 5.19-21; Ef 2.11-22).

Somos chamados, não a pregarmos a nós mesmos, nem a pregar filosofias ou sutilezas humanas, mas a Cristo, e este crucificado para salvação de todo aquele que crê. Jesus, quem ressuscitou dentre os mortos para nossa justificação, quem abriu o caminho ao Pai. A Igreja é chamada a ser a Terceira Via, embora seja a Primeira Via, porque ela aponta para o Messias, prega a esperança viva no meio das divergências e governos humanos pecadores, e aguarda com paciência o estabelecimento do Reino de Deus.

Por isso, o próprio Jesus nos ensinou a orar ao Pai: "Venha a nós o teu reino".

Fuja da idolatria política, das ideologias conservadoras e liberais, e abrace o Evangelho de Cristo, tome posse da vida eterna, e pregue as Escrituras. 

Que sejamos instrumentos de reconciliação no meio desta polarização que nos assedia.

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