Qual é valor da cruz? Reflexões numa sexta-feira da paixão confinado


Hoje, as pessoas lembram da cruz de Cristo. E justamente neste momento histórico tão particular, lembrar do sacrifício de Jesus pode nos trazer consolo no meio da aflição.

Como sempre, volta e meia aparecem os que usam o sacrifício de Jesus para seus próprios fins, se esquecendo que Jesus não era um líder político, nem um filósofo ou um sábio. Jesus era muito mais do que isso, Ele é o Verbo Encarnado, o Emanuel, o Cordeiro de Deus

Jesus veio a este mundo como o Servo Sofredor, aquele que carregaria sobre si as nossas dores, experimentaria o quebranto, receberia o castigo a nós merecido para que tivéssemos paz para com Deus. O Messias veio para construir a ponte que Adão tinha destruído por causa do pecado: a comunhão e a filiação com Deus, para invocá-lo e chamá-lo de Pai.

Jesus não apareceu para lutar contra o Império Romano, os líderes da nação de Israel ou a liderança religiosa; aliás, todos eles permaneceram após Jesus. Jesus não apareceu para destruir a luta de classes, porque no Novo Testamento não se chama a uma rebelião dos escravos contra seus senhores (embora Paulo lhes pede que procurem alcançar a liberdade, o que era feito com o pagamento de uma soma de dinheiro ao amo, e não por meio de uma revolta). Jesus reivindica o papel da mulher e das crianças, mas não as incita a lutar contra o machismo. Jesus aceita a adúltera, os doentes, leprosos e cego, mas pede que todos eles larguem a vida de pecado. Jesus discursa muito forte contra a religiosidade dos fariseus, saduceus e mestres da Lei; mas não poupa o discurso com seus discípulos e seguidores.

A cruz também não foi o resultado do Senhor da Glória ter se levantado contra as autoridades. Não podemos, nem devemos, olhar para cruz de maneira política ou reivindicativa. A cruz está longe das discussões filosóficas e teosóficas. Ela está além do humanismo, do hedonismo e do sincretismo. A cruz confronta, ao ponto de termos as mesmas reações que as pessoas tiveram quando Jesus esteve pendurado ali.

A nossa reação perante a cruz

O texto de Lucas apresenta os atores ao redor da cruz.Vejamos o texto.
Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, bem como aos malfeitores, um à direita, outro à esquerda. Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Então, repartindo as vestes dele, lançaram sortes. O povo estava ali e a tudo observava. Também as autoridades zombavam e diziam: Salvou os outros; a si mesmo se salve, se é, de fato, o Cristo de Deus, o escolhido. Igualmente os soldados o escarneciam e, aproximando-se, trouxeram-lhe vinagre, dizendo: Se tu és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo. Também sobre ele estava esta epígrafe [em letras gregas, romanas e hebraicas]: ESTE É O REI DOS JUDEUS. (Lucas 23:33-38)
Temos vários grupos, assim vamos agrupá-los.

Os que observam e nada fazem.

A cruz pode ser um espetáculo para a maioria e só isso. A multidão estava atônita observando aquele que, menos de uma semana antes, tinha entrado num jumento na cidade, e gritaram e o proclamaram rei. Essa mudança radical em uma semana era difícil de digerir. Dentro da multidão estavam vários discípulos, que também foram presenciar o acontecimento mais contraditório para eles, juntamente com Maria e as mulheres que sempre serviram ao Senhor no seu ministério.

O estado de espanto e tensão fez com que o público fosse um mero espectador. A cruz para eles é show, espetáculo para assistir sempre que aparece, mas não há transformação de vida, não há contrição nem convicção de pecado. Por que? Porque ainda não entenderam as Palavras de Jesus nem Sua missão.

Zombaria e Escarnecimento, porque não entenderam a Pessoa e o propósito de Jesus.

Quem diria que grupos tão antagônicos andariam de mãos dadas num momento assim? Diz o ditado que "o inimigo do meu inimigo é o meu amigo" e aqui vemos isso claramente. Os soldados romanos e a liderança de Israel unidos com um propósito: zombar e escarnecer o Filho de Deus.

Ambos dizem o mesmo: "se és o Filho de Deus", lembrando as palavras de Satanás no deserto.

O que para eles era um escárnio e zombaria, para Satanás era o momento final para que o Filho do Homem desistisse da cruz. O diabo sempre quis que Jesus abdicasse a cruz, porque ele sabia que aí estaria sua derrota, por isso usou o desafio de demonstrar que Jesus era o Filho de Deus sem beber o cálice da ira divina.

Eles pediram para que Jesus descesse da cruz, assim eles passariam a crer

Quantas pessoas pretendem crer em Cristo se a cruz não fosse tão pesada? E quando percebem que a cruz de Jesus não muda pelas pretensões humanas, eles a acusam de ser exclusivistas e zombam dela, fazendo escárnio das Palavras e Obras de Jesus.

Mas, Jesus veio justamente para morrer na cruz, tomando o nosso lugar pelos nossos pecados. É impossível separar Jesus da Sua Natureza Divina e Humana, ao mesmo tempo é impossível separar sua vida da cruz, porque Ele veio justamente para dar sua vida em resgate pelo pecador. E, por último, não podemos separar a cruz de Cristo com a nossa crucificação, porque quem crê em Cristo está crucificado juntamente com Ele.

O escarnecedor não poderá abraçar a cruz de Jesus, porque é escândalo, mesmo assim não tem desculpa perante o Senhor.

Confessar os pecados, declarando Jesus como Senhor e Deus

Surpreendentemente esta atitude a vemos em dois personagens inusitados: o ladrão e o centurião.

Ambos se encontraram com o Messias nessa tarde, e possivelmente nunca participaram do ministério de Jesus; mas bastou essa hora, ouvindo suas palavras, olhando sua atitude, atentando para os acontecimentos, e a iluminação do Espírito de Deus, para que pudessem clamar a Jesus por perdão e reconhecer que Ele era o Cordeiro de Deus.

E quero ficar com eles dois, e ver o valor da cruz nas palavras deles.

O ladrão

Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso. (Lucas 23:39-43)
O ladrão estava na mesma condição que Jesus, pendurado em outra cruz, mas sofrendo a justa condenação pelas suas ações de maldade (não existe esse papo de "ladrão bom", ele confessa sua miséria). Mas, quando olha para Jesus, Ele compreende que o Messias era inocente, mas que estava pendurado juntamente com eles para levar também suas condenações e culpas.

O ladrão é o entendimento verdadeiro da graça. Ele reconhece que o castigo sobre eles era merecido, assim como nós temos que reconhecer que a nossa condenação pelos nossos pecados é justa, porque é dada por um Deus Santo. Ele vê em Cristo a inocência no seu caso, mas sabe que está aí por ele, assim como devemos entender que na cruz, o Cordeiro de Deus está dando sua vida pelo nosso pecado, Ele está sofrendo o castigo que era nosso, Ele morre para nos dar vida eterna. Por último, o ladrão clama por misericórdia e graça, e esse clamor é dado por alguém que sabe que não tem outro além do Senhor; clamamos por perdão a Jesus quando deixamos de sermos meros espectadores, e olhamos para nossa condição de miséria por causa do pecado.

O ladrão olha para Jesus na esperança de ter o perdão, não se justificando mas clamando. Devemos aprender com ele.

O centurião

Já era quase a hora sexta, e, escurecendo-se o sol, houve trevas sobre toda a terra até à hora nona. E rasgou-se pelo meio o véu do santuário. Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou. Vendo o centurião o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Verdadeiramente, este homem era justo. (Lucas 23:44-47)
O centurião não viu o véu se rasgando, mas contemplou o que os outros contemplaram: as trevas, o clamor de Cristo, sua morte; porém, ele foi o único a dar glória a Deus e reconhecer que Jesus era justo.

O centurião viu em Cristo a inocência do Cordeiro de Deus.

O que contemplamos na cruz?
As pessoas, que viram os mesmos acontecimentos, saíram dando-se batendo os peitos, ficando somente alguns discípulos e familiares. Mas, nenhum deles concluiu como o centurião.

Por que? Porque ele, que foi a ter mais um dia de trabalho, se encontrou face a face com o Cordeiro de Deus. Porque, mesmo que não esteve na procura de uma experiência religiosa, foi alcançado pelo crucificado. Ele foi "matar" Jesus, mas acabou morrendo juntamente com o Messias, assim como o ladrão.

Qual é o valor da cruz?

A cruz tem um alto preço, o preço da vida do Filho de Deus para nos resgatar da condenação e nos tornar filhos de Deus pela fé. A cruz, independente das respostas das pessoas, mantém sua vigência no tempo. A cruz nunca deixará de ser o que ela é: o instrumento de castigo, onde o Filho de Deus foi sacrificado como o Cordeiro de Deus.

Você e eu podemos carregar una cruz física no pescoço ou no punho, podemos nos tatuar cruzes no corpo, ou colocar várias na casa, no carro, onde for; inclusive adornar nossas igrejas com ela. Mas isso é nada. A cruz não pendurou Jesus para servir como símbolo, mas como o instrumento da nossa salvação.

A cruz aponta para Jesus, não para ela mesma. A cruz estende os braços do Filho do Homem, onde Ele morre. A cruz mostra Deus dizendo "olha para mim e sede salvos". A cruz aponta para a salvação, onde a dívida do nosso pecado foi paga. A cruz mostra a substituição perfeita, onde Jesus toma o meu lugar, sofrendo minha culpa para que eu obtenha sua inocência. A cruz me mostra um Jesus que fala "hoje estarás comigo no paraíso" para aquele que clamar por perdão.

Hoje, muitos andarão com cruzes. Mas o que Jesus quer é que carreguemos a cruz da sua morte, sermos participantes da sua morte. Paulo escreveu "com Cristo estou juntamente crucificado", e essa deve ser a nossa vida, porque na cruz há uma dupla crucificação: estamos crucificados para o mundo, e o mundo está crucificados para nós. A cruz me mata para que a vida de Cristo seja abundante em mim.

O valor da cruz não está na madeira, nem no lugar onde foi levantada. O valor real está na Pessoa que esteve ali, e morreu por mim.

Por isso, qual é o valor da cruz? Nenhuma fora de Jesus. Porque Jesus é o centro do Evangelho. Sua morte é a minha vida, seu sacrifício foi o preço pela minha salvação.

E para você? Qual será sua reação nesta sexta-feira da paixão?

Será como a multidão? Assistindo, mas não reagindo. Zombará e escarnecerá Jesus na cruz, porque você acha que isso é tolice. Ou se prostrará e confessará que Ele é o Senhor, clamando pelo perdão dos seus pecados?

Nós precisamos urgentemente dessa vida em nós. Amanhã seremos julgados pelo próprio Salvador, e nessa hora não haverá possibilidade de perdão se sua decisão for não hoje.

Que Deus abençoe você

Comentarios

Gilma dijo…
Obrigada Jesus!!!! Pelo seu sacrifício!HOJE tenho vida eterna através do seu sangue.
Que palavra edificante. Qual o valor da Cruz para mim? Deus te abençoe Pastor Roberto.