Podemos ter esperança na cova

Da mais profunda cova, SENHOR, invoquei o teu nome. Ouviste a minha voz; não escondas o ouvido aos meus lamentos, ao meu clamor. De mim te aproximaste no dia em que te invoquei; disseste: Não temas. (Lamentações 3:55-57)
 A angústia de Jeremias era real: a cidade de Jerusalém estava consumida pelas chamas, seus muros derrubados, o palácio e Templo saqueados e destruídos, os principais líderes políticos e religiosos foram levados cativos ou mortos, a fome e a miséria eram patentes em todos, e a barbárie, aquele momento em que o raciocínio e a humanidade parecem desvanecer-se, começa a aparecer no meio de tanta destruição.

As circunstâncias falavam a Jeremias que a esperança tinha se perdido assim como alguém que cai numa cova estreita no meio do deserto, aos poucos o ar começa a faltar pela dificuldade de respirar e o pó que começa a entrar nas vias respiratórias; o desespero toma conta e a tentativa de gritar por socorro é grande, porém falta o ar e as forças, o que torna o desespero num choro que também não consegue sair, porque os pulmões estão comprimidos, e dói tentar expandi-los. Aos poucos a sede e a fome aparecem, somente que os braços e as mãos estão presas, comprimindo o tórax.

O que resta é ver como a morte vá aparecendo aos poucos, mostrando sua face cheia de horror e desespero.

Para o profeta, Jerusalém estava nessa situação. A vida indo aos poucos sem esperança, as ondas batendo com força na areia, e o castelo que com muito carinho e dedicação foi construído, começa a cair pelo ímpeto das águas. O ar vai faltando ao ver como as pessoas vão desistindo de viver, e ninguém clama ao Senhor por ajuda, porque a vergonha toma conta de todos, desde o menor até o maior começam a olhar suas vidas e sentem que tudo isto vem do Eterno, como uma consequência dos seus pecados. Aqui não tem inocentes, todos estão sob a ira do Todopoderoso Deus.

Jeremias está no meio. Ele tinha profetizado que este dia aconteceria, somente que ele também não foi poupado. Ele sofre junto com o povo, também está com fome, também sofre as inclemências dos opressores, também ele está na cova.

Mas nele há uma esperança. A esperança de Jeremias é o Senhor.

Ele enxergava além da cova, ele sabia que perto está o Senhor para quem o invoca com sinceridade. Ele conhecia o Deus da ira e da misericórdia, ele tinha certeza que a cura do Senhor também estava disponível para quem desejar.

Por isso, eu quero deixar aqui alguns aspectos que este texto nos mostra.

Estamos todos dentro da cova 

Não sei você, mas já vi pessoas negando a realidade pensamos que, assim como a estória da avestruz que esconde sua cabeça para se esconder, muitos acham que confessar positivamente vá resolver a situação.

Vemos que Jeremias, muito pelo contrário, aceita a situação, porque na aceitação da realidade podemos ver tudo com clareza. Eles estão numa situação de extrema pobreza e necessidade, as doenças começam a se espalhar pela cidade e não há médicos nem remédios; a vida aos poucos está sumindo das pessoas e nada pode ser feito.

Enxergar a realidade, do jeito que ela é, nos ajuda a clarear os pensamentos. Somente quando entendemos que estamos na cova é que podemos ver que estamos impossibilitados de sermos salvos por nós mesmos. Os cientistas estão correndo contra o tempo para achar uma cura, enquanto isso devemos estar isolados. E se vier outra, o que faremos? Não é ser pessimistas, é seguir a linha de pensamento que tanto se repetiu nos últimos anos e que ninguém deu ouvidos. A realidade pode nos ajudar a prever um futuro que se tornou, da noite para o dia, distópico.

Mas, enxergar a realidade não é suficiente. Jeremias entendeu que o povo de Jerusalém estava numa cova, mas ele quis ir além disso, era hora de buscar uma saída. E foi isso que ele fez.

Ele clamou ao Senhor no meio da cova.

Não cesse de clamar na cova

O desespero pode bater a porta da nossa existência, mas isso não deve nos impedir de clamar a Deus por misericórdia nesta hora. Muitos andam recitando promessas bíblicas como mantras, o problema nesse caso é que todas as promessas do Senhor são condicionais a dois aspectos que esquecemos: (1) Deus promete aos seus filhos, não a todo mundo; (2) as promessas se cumprem de acordo com os Desígnios divinos e não quando a acharmos oportunas.

Por isso, o melhor que podemos fazer é clamar ao Senhor assim como Jeremias fez. Invocar o Senhor e clamar ao Seu nome envolve a confissão de pecados e o voltar ao Eterno em arrependimento e fé. E tempo de clamar a Deus em humilhação, devemos rasgar o nosso coração e derramar nossa vida diante do Senhor. Nesta hora o orgulho de nada nos servirá, o que vale é um coração que se volta a Deus, assim como Jesus mesmo disse: "Arrependei-vos, porque o reino de Deus tem chegado a vós".

Mesmo estando dentro da cova, não cesse de clamar. O socorro do Alto virá.

Mesmo na cova, podemos esperar em Deus

Quando clamamos a Deus, Ele responde por Amor do Seu Nome.

Vejam que, no texto de Lamentações, Deus se aproxima e conforta o coração do profeta. "Não temas" foram suas palavas. 

Há esperança para quem está na cova, há um tempo de libertação, Deus vem libertar seu povo. Libertá-lo, não da praga nem dos males (Jeremias ficou um bom tempo em Jerusalém), mas do temor que nos impede ver Deus agindo nos corações.

Deus promete Sua Presença para aqueles que o temem. Foi isso que falou a Moisés quando lhe falou "minha presença irá contigo, e te darei descanso" (Êxodo 33.14). Davi escreveu que o Bom Pastor estaria com Ele no vale da sombra da morte, não impedindo que entrasse lá, mas que teria refrigério e descanso no meio dos seus inimigos (Salmo 23.4-6). Jesus falou que no mundo teríamos aflições, mas que sua vitória sobre o mundo nos daria descanso (João 16.33).

O livramento de Deus não quer dizer, necessariamente, sermos livres dos problemas. Muito pelo contrário, é andar no meio da tempestade com Ele ao nosso lado; é estar na cova, mas tendo seu conforto até chegar o resgate; é andar no vale da sombra da morte, rodeados de inimigos, tendo sua companhia conosco.

Nossa esperança é o Senhor

Este é um momento onde as decisões que tomamos serão transcendentais.

Para muitos, depois disto o mundo não será mais o mesmo. Eu acreditaria nisso se os corações dos homens se voltassem a Deus, fora disso, assim que o homem sentir que a ameaça acabou, ele voltará a sua rotina.

Mas, que diferença se os nossos corações se encontrarem com o Senhor no meio desta cova, porque na Sua presença teremos o verdadeiro descanso e a transformação integral da nossa vida. Somente nele podemos ter uma visão mais transcendente da vida, e enxergar o passo neste mundo como um estágio para a eternidade, e no olhar transcendente da vida podemos contemplar o Soberano Deus, cuidando de todos os detalhes, e dando-nos a oportunidade de ter mais um encontro com Ele.

Se ainda estamos vivos, temos mais uma chance de entrar na Sua Presença e clamar por misericórdia e graça.

Queremos viver sem temor? Então é tempo de olhar para o Alto, ao Deus que enviou Jesus para nos salvar da ira divina, do juízo que vem pelos nossos pecados. É hora de clamar ao Senhor pelos nossos filhos, os que estão na linha de batalha, pelos governantes, pelos doentes, por todos.

É tempo de buscar a Deus.

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