Onde estão os diáconos? A resposta vai te surpreender!


A palavra diácono é uma transliteração do grego diakonos, que num sentido amplo significa "servo". No Dicionário Strong relaciona a palavra ao garçom, aquele que serve às mesas. O Dicionário Vine segue a mesma linha, mostrando que o diakonos serve como assistente voluntário, fazendo isso de boa vontade.

Também está o verbo diakoneo, que são as ações de serviço dos diákonos.

Esta palavra é utilizada no Novo Testamento para mostrar três tipos de pessoas e ao próprio Jesus, porque ela é uma qualidade abrangente, muito ampla e útil nos nossos dias em que estamos todos confinados.

Para efeitos didáticos, vou começar desde o uso mais específico do termo até o abrangente, tendo como último ponto o próprio Jesus.

Diácono como oficial da Igreja

Este é o mais conhecido uso da palavra diácono nas nossas igrejas, se bem apareça somente duas vezes no NT (Filipenses 1.1 e 1 Timóteo 3.8-13). Alguns fazem referência aos "sete" de Atos 6 como diáconos, o que faz sentido por causa da natureza da sua função.

Um diácono é, de acordo a Filipenses 1.1, um dos oficiais da Igreja, e compartilha da liderança espiritual e administrativa junto com os presbíteros, constituindo uma espécie de Conselho. Porém, no que concerne a sua ação dentro do Corpo de Cristo vamos usar o livro de Atos, no capítulo 6.

Houve um problema de falta de assistência das viúvas de ascendência grega, acusando de discriminação e xenofobia dentro da Igreja. Os apóstolos não tinham condições de resolver um problema legítimo, mas que levaria tempo e esforço, tirando o foco do apostolado na formação da comunidade nascente de Jerusalém.

A solução foi esta:
Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra. (Atos 6:3-4)
Vejam que os "sete" surgiram da própria igreja (escolhei dentre vós) o que demonstra o primeiro princípio do ministério diaconal: o diácono exerce o ministério antes da sua ordenação. Logo, as qualidades espirituais do diácono não podem ser negligenciadas, o que nos leva ao segundo ponto: o diácono é um homem de Deus em todos os sentidos, tendo, de acordo com os requisitos de 1 Timóteo 3, quase as mesmas qualidades espirituais, familiares e teológicas dos presbíteros, isso por causa da natureza da sua função, que é o ponto a seguir. O diácono cuida da área social e das necessidades físicas dos membros da igreja, enquanto os presbíteros ficam com o ministério da Palavra; isso não quer dizer que diáconos não possam pregar (Estevão e Felipe nos mostram que também são bons pregadores), mas o foco deles é a área de cuidado da igreja, para aliviar a carga pastoral do ensino aos presbíteros.

Este é o significado mais conhecido da palavra diácono, mas não é o único.

Os dons como diákonos

Voltemos a Atos 6
e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra. (Atos 6:4)
A palavra usada aqui por "ministério" no grego é diakonia. Se lhe parece estranho, vejamos outros textos onde mostra que, quando falamos dos dons e ministérios, a palavra usada é diakonia.

Paulo chama que deve completar seu chamado e diakonia que recebeu do Senhor, que era testemunhar dele ao mundo (Atos 20.24); também conta a Tiago e aos irmãos de Jerusalém como tem sido sua diakonia no meio dos gentios (21.19), certificando suas palavras aos Romanos (11.13); o dom de "ministério" ou "servir" em Romanos 12.17 é diakonia.

Os Corintios eram o resultado da diakonia de Paulo, exercida pelo poder de Deus (2 Corintios 3.3), a própria manifestação do Espírito foi pela diakonia, o Espírito atua como um diácono! (3.7-9). Essa diakonia imposta a Paulo fazia que ele não se desanimasse (2 Coríntios 4.1-6), porque Deus nos deu a diakonia da reconciliação (2 Coríntios 5.18-21), e exorta aos Coríntios a terem um comportamento digno, de sorte que não seja censurada a diakonia deles (2 Coríntios 6.1-3), e Paulo se identifica como um diácono de Deus (2 Coríntios 6.4-10; 1 Timóteo 1.12).

Na Igreja de Colossas, Arquipo devia cuidar da diakonia recebida pelo próprio Senhor (Colossenses 4.17), assim como a Timóteo (2 Timóteo 4.5), e testemunha da diakonia util de Marcos (4.11).

A natureza ministerial é uma natureza de serviço, não existe um cargo que possa ser usado como um acumulador de Poder. A natureza diaconal dos ministérios da Igreja nos lembram o princípio dado por Jesus.
Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. (Marcos 10:42-45)

A Igreja como Corpo de Diáconos

Os ministérios diaconais da Igreja têm como função despertar a diakonia dos santos.
E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço (diakonia), para a edificação do corpo de Cristo, (Efésios 4:11-12)
A Igreja deve ser uma comunidade de diáconos, de personas servindo umas a outras, seguindo as instruções dos presbíteros e diáconos enquanto a ensino e serviço prático.

A Igreja, como comunidade de fé, vive uma dinâmica maravilhosa, onde teoria e prática se fusionam numa harmonia gloriosa, sob a liderança e direção do Espírito, quem nos serve (diakonia) derramando seus dons livremente sobre o Corpo de Cristo, para que possamos servir (diakonia) aos irmãos da fé, e ao mesmo tempo às pessoas que não conhecem Jesus. O ministério diaconal da Igreja como um todo é vital para o crescimento integral do Corpo de Cristo: se todos estivermos cumprindo o nosso papel, servindo como garçons a graça de Deus a nós encomendada, quantas pessoas hoje não estariam rendidas aos pés de Jesus?

A Igreja vive para servir. Lembram do primeiro ponto quando falei que
...os "sete" surgiram da própria igreja (escolhei dentre vós) o que demonstra o primeiro princípio do ministério diaconal: o diácono exerce o ministério antes da sua ordenação.
Pois bem, ninguém pode almejar a diaconia na igreja sem antes ter um coração de diácono. O cargo não define o dom, a Igreja certifica o dom exercido previamente, e por isso o ordena. O diácono surge antes da sua ordenação. A Igreja deve ser uma igreja diaconal em cheio, onde todos servem uns aos outros no amor fraternal, e esse amor é visto nas outras pessoas, querendo ser parte da nossa comunidade por causa da Glória e Harmonia de Cristo em nós. Uma leitura rápida do livro de Atos nos mostra isso.

Jesus como o Supremo Diácono

Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir (diakoneo) e dar a sua vida em resgate por muitos. (Marcos 10:45)
Quem poderia pensar em Jesus como Diácono? Pois bem, Ele se identifica como diácono neste texto, e em outros mostra sua vida de serviço. Jesus veio para nos dar exemplo em tudo, incluindo na nossa vida de serviço como diáconos.

Vemos Jesus como o Diácono perfeito, e desse serviço devemos aprender. Ele nos pede que aprendamos a sermos garçons uns dos outros (João 13.13-17) estimando o serviço como prática de vida. Se alguém, dentro do Corpo de Cristo, pensa que deve ser servido antes de servir, não entendeu plenamente o Evangelho de Jesus: um dos fundamentos do cristianismo é o serviço desinteressado, altruísta, integral; e isso deve ser resgatado numa sociedade egoísta, hedonista e assistencialista.

Se Jesus é o nosso exemplo superior de diaconia, como escaparemos deste ministério?

Conclusão: onde estão os diáconos?

Acho que essa pergunta se transformou, neste ponto, numa pergunta retórica. 

Mesmo assim, vou dar algumas pinceladas para reforçar o ponto.
  • Jesus é o nosso exemplo de serviço, ele serviu pelo Seu estado de Humilhação, e ao mesmo tempo para que vejamos que servir é o maior privilégio que podemos ter. Servimos por amor e não pela gratidão dos homens (embora devemos aprender gratidão quando servidos).
  • A Igreja é chamada a uma vida voltada ao serviço integral, não podemos esperar que todas as indicações de serviço, chamadas a evangelismo, discipulado, visitas, ligações, mensagens, venham da liderança. A Igreja é proativa no seu ministério, Salomão escreveu que tudo o que estiver na nossa mão para fazer deve ser feito, e como uma Igreja diaconal esse princípio vale para nós.
  • O dom da diaconia na Igreja é despertada por uma liderança diaconal, que entende que se cada um cumpre o seu papel dentro do Corpo de Cristo, a Igreja cresce e se desenvolve saudavelmente, tanto no sentido vertical (com Deus) como no horizontal (conversões e batismos). A liderança deve criar oportunidades de serviço para todos, ensinando e instruindo previamente a Igreja nisso.
  • Os diáconos, os oficiais da Igreja, devem dar um passo na frente, e no Poder do Espírito, auxiliar o trabalho dos presbíteros nas áreas sociais e de assistência. Permitindo que os presbíteros foquem na diakonia do ensino da Palavra.
Onde estão os diáconos? Não olhe para os oficiais da Igreja, olhe para você. Nesta hora em que está resguardado junto com sua família, você é o diácono dela, você é o diácono dos seus vizinhos, você é o diácono da sua comunidade e de seus irmãos que estão perto de você.

Uma Igreja que exerce a diaconia como prática de vida, vive o cristianismo pleno, porque entende que, assim como Jesus serviu até o momento da Sua morte, nós também devemos servir até o fim da nossa vida.

Seja o diácono que a Igreja precisa, não precisa ser ordenado porque já foi chamado pelo próprio Senhor.

Que Deus abençoe sua vida, e sirvamos a Deus e ao próximo com alegria! Você e eu somos os porta-vozes da esperança da Glória em Cristo.

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