Cego é aquele que não vê?

Ao passar, Jesus viu um cego de nascença. Seus discípulos lhe perguntaram: "Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego? " João 9:1-2
Na época de Jesus, o cego era uma pessoa sem direitos, quase um paria. Seu destino era mendigar porque não tinha meios de sustento, era colocado na rua onde estaria pedindo misericórdia das pessoas que passavam na tentativa de ter algo para comer, e esperar o dia de amanhã para continuar com a mesma vida. Não tinha esperança de progredir, sem possibilidade de ter uma oportunidade, era uma vida que se perdia na incompreensão e impotência de uma sociedade que nunca soube o que fazer com eles.

Para piorar tudo, a teologia da época gostava de ver as deficiências físicas como una consequência do pecado. Deficiências congênitas eram o resultado dos pecados dos pais; por outro lado, se a deficiência era na vida da pessoa, pois foi um pecado cometido que precisava de julgamento divino rápido.

Basta um olhar ao Antigo Testamento, para ver que ambos os argumentos caem com facilidade (por exemplo, Ezequiel 18 e o livro de Jó). Mas a tradição dos fariseus era firme, e impediam que as pessoas enxergassem esses textos como eles realmente eram. Os fariseus criaram na mente dos israelitas a ideia de um Deus que cobra com taxa de juros os pecados cometidos, punindo os filhos pelas injustiças cometidas pelos ancestrais.

Os discípulos estavam impregnados dessa teologia, e encontram o cego mendigando. Sabem que é cego de nascença e por isso indagam em Jesus para ver qual é a origem do pecado nele.

Existem pessoas que gostam de ver pecado em tudo. Qualquer desgraça é sinônimo de pecado e falha contra Deus. Perda de emprego, morte de um parente, doença, dívidas, tudo é pecado ou falta de fé. Parece que a pessoa deseja ver o Senhor castigando todo mundo, num senso de justiça absurdo.

E, por que eu falo absurdo? Porque se acontecesse com ele, estaria pedindo para não ser julgado, porque "quem me julga é o Senhor". Essas pessoas têm um senso de justiça própria e não divina, odeiam os outros e têm inveja daqueles que andam bem na vida, torcem e inclusive oram pela queda dos outros para se justificarem da mediocridade de vida que tem. Os que gostam de julgar os outros, comumente, escondem pecados sob camadas de peles de falsa piedade. Mas, Deus conhece todas as coisas.

É fácil julgar às pessoas pelo que vemos, mas é difícil ter compaixão, empatia e graça quando estamos cegados pela religiosidade. Os discípulos tiveram esse olhar sob o homem cego, e somos facilmente levados a pensar assim, julgando os outros que são "piores" para que a nossa consciência fique limpa. Afinal, esse foi o argumento final do fariseu na sua oração: "obrigado Senhor porque não sou como este publicano".

Será que andamos preocupados com os pecados alheios, assim como os discípulos? Buscamos defeitos e pecados nas pessoas que sofrem, ou estamos dispostos a oferecer graça e misericórdia, assim como nos oferecida em Cristo?

Que Deus nos ajude para sermos livres da cegueira da religiosidade e de julgar prontamente a desgraça do outro!

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