Quem forma Pastores?


Foi Diretor Acadêmico e Professor de Teologia Sistemática no Seminário Teológico Batista do Norte de Minas por 5 anos, foi um período maravilhoso e desafiador, principalmente pela questão do vocacionado: formação, caráter e acompanhamento antes, durante e depois de formado na nossa Casa de Ensino.

Presenciei alunos excelentes, bons alunos, de excelente caráter e comportamento, que hoje servem ao Senhor como Pastores ou Líderes nas suas respectivas Igrejas; outros decidiram permanecer como membros das suas Congregações, aportando num perfil mais baixo dentro da sua comunidade; e por último teve poucos casos de seminaristas que apresentaram problemas posteriores dentro da sua caminhada, e que hoje estão afastados do ministério, do serviço em geral e até com sua saúde emocional comprometida.

Fomos, como Corpo Discente, questionados a respeito do papel do Seminário na formação do vocacionado. Nosso Seminário era - e ainda é - no regime semi presencial, o que tornava o convívio mais restrito. Por isso investi tempo precioso com alguns nos horários após as aulas, mesmo que isso significasse chegar mais tarde em casa, mas sabia que a comunicação com os vocacionados era vital para seu desenvolvimento ministerial. Alguns falaram dos seus problemas pessoais, outros das dificuldades dentro da Igreja ou com seu Pastor, também houve momentos de descontração, mas de tentar ajudar no máximo no desenvolvimento dos seus dons.

Porém, sempre fica aquela pergunta a respeito do vocacionado: quem deve lapidar essa vocação para que seja um instrumento útil ao Senhor? Quem deve encaminhar o vocacionado até atingir seu potencial dentro ou fora da Igreja, de tal maneira que não tenha nada de que se envergonhar?

Como Pastor, como vocacionado (porque acredito que esse estilo de vida nunca se perde) e como Professor na EBD na minha Igreja de Doutrina, além da minha experiência como cristão, posso dizer que não é o Seminário quem deve lapidar isso no Seminário, mas a própria Igreja.

Sabemos que o ensino deve fazer parte da vida da Igreja, e isso inclui doutrina e os rudimentos da fé. O problema é que isso fica restrito para uma sala de EBD e não a ensinamos à Igreja como um todo; preferimos mensagens inspirativas, que mexam com o emocional da pessoa, mas que não fornecem respostas profundas às maiores inquietudes e dificuldades que são geradas na hora de compactuar a fé cristã com o mundo em que vivemos. A Teologia ficou presa ao academicismo das salas de aulas dos Seminários, e por alguma razão que até hoje desconheço (ou não quero reconhecer) não o ensinamos aos nossos queridos membros da Igreja.

Eu tive Pastores que são referências para mim. Lembro de um deles, auxiliar de uma Mega Igreja na cidade de Panamá, me aproximei no seu escritório para ter um bate-papo sobre pregação, vida cristã, mas sobre vocação, e lhe perguntei qual é o segredo do crescimento da Igreja, sua resposta foi bem simples: "Uma visão clara, e a Palavra de Deus chegando às necessidades das pessoas".

Simples? Sim, suficiente? Claro que sim, mais do que isso é tentar viver nas modinhas que tanto mal criam em nós.

Foram os meus pastores quem me aconselharam a tomar atitudes que hoje eu faço, a olhar a Igreja com eu a enxergo hoje. Até hoje, os conselhos dos mais experientes são uma referência obrigatória para mim, para ter uma perspectiva mais ampla e para descarregar minhas lutas e pesares. Além disso, tenho colegas que posso dizer que são os meus amigos, pessoas nas que posso confiar segredos e compartilhar sonhos. Não são tão numerosos quanto gostaria, mas tenho a felicidade de não estar sozinho.

Agora, em que me ajudou o Seminário? Em muito, e sou muito grato pelo Seminário onde estudei (o MTC Latino americano, em Montes Claros) porque eles ampliaram meu pequeno conhecimento missiológico, me ajudaram a clarificar algumas lacunas teológicas, aprendi a me posicionar com respeito e ouvir num diálogo, me ensino que nem sempre o que aprendemos através das tradições é correto, e que o convívio é necessário se não queremos acabar num hospício (literalmente).

No Seminário conheci pessoas que amoldaram ainda mais a minha vida, fiz amizades que até hoje conservamos, li o que nunca conseguiria ler fora dele e ponderei e aceitei o meu chamado de forma clara. Como era de regime interno foi muito intenso, mas valeu a pena.

Mas, não foi o Seminário quem formou em mim o desejo ou me deu as ferramentas para servir melhor no Ministério. Ela me deu o conhecimento teológico e auxílios necessários, mas ela não dá a vida, e mesmo tendo estágio, ela não vai - nem deve ao meu ver - ser quem determine quem pode e quem não ser ordenado. Isso é, e sempre será, uma atribuição da Igreja Local, quem observando, avaliando e acompanhando o seu membro, é quem conhece muito bem se ele poderá viver essa experiência de forma plena, santa e total.

Por isso, na minha humilde opinião, devemos olhar dentro de nós como Igreja Local, e ver onde temos falhado quando vemos obreiros mal preparados, teologicamente fracos (embora aqui os Seminários também têm sua parcela de culpa), emocionalmente fracos para lidar com um grupo tão diverso e complexo como são os membros da Igreja, e sem uma resposta clara, bíblica e contextualizada aos problemas que enfrentam. Uma Igreja saudável gerará líderes saudáveis quem, com o tempo, podem ser pastores preparados.

Para nós, Pastores, quem temos o glorioso e responsável dever de ensinar, como Paulo falou aos Efésios, todo o conselho de Deus.

Que Deus nos ajude

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