A Serpente de Bronze



João 3 (14)  E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, (15)  para que todo o que nele crê tenha a vida eterna.  
Jesus aqui vai usar a história da serpente de bronze.

A serpente de bronze

Números 21:4-9  Então, partiram do monte Hor, pelo caminho do mar Vermelho, a rodear a terra de Edom, porém o povo se tornou impaciente no caminho.  (5)  E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito, para que morramos neste deserto, onde não há pão nem água? E a nossa alma tem fastio deste pão vil.  (6)  Então, o SENHOR mandou entre o povo serpentes abrasadoras, que mordiam o povo; e morreram muitos do povo de Israel.  
O povo de Israel teve que fazer um desvio do seu percorrido para possuir a Terra Prometida, e não conseguiram atravessar Edom, o que os teria posicionado bem perto da terra de Canaã. Essa situação de estar perto e ao mesmo tempo longe desanimou o povo e a paciência deles ficou curta (a raiz do hebraico demonstra isso[1]), por isso começaram a criticar a provisão de Deus nas suas vidas.

Foi então que, no meio do deserto, serpentes ardentes aparecem e muitos morreram no acampamento de Israel.

Por isso, Paulo nos adverte muito bem sobre não imitar a atitude do povo de Israel quando escreve:
1 Coríntios 10:9  Não ponhamos o Senhor à prova, como alguns deles já fizeram e pereceram pelas mordeduras das serpentes.
O exemplo de rebelião do povo de Israel nos ensina vários aspectos pontuais que não devemos esquecer:
  • Somos o povo de Deus, e portanto, seguimos o rumo traçado pelo Senhor mesmo achando que parece que recuamos (como o povo de Israel achou). 
  • A provisão de Deus é suficiente para nós, o que temos recebido da sua mão é o que precisamos. O maná rendia igual ao que pagava muito ou pouco, por isso não podemos nos desanimar mesmo se vemos que o que temos pareça pouco.
  • E por último, em termos gerais, todos nós somos como o povo de Israel: rebeldes, contraditórios, amargurados e ingratos. E recebemos o justo castigo pelos nossos pecados (que para eles foram serpentes ardentes).

A provisão de Deus: serpente contra serpente

(7)  Veio o povo a Moisés e disse: Havemos pecado, porque temos falado contra o SENHOR e contra ti; ora ao SENHOR que tire de nós as serpentes. Então, Moisés orou pelo povo.  (8)  Disse o SENHOR a Moisés: Faze uma serpente abrasadora, põe-na sobre uma haste, e será que todo mordido que a mirar viverá.  (9)  Fez Moisés uma serpente de bronze e a pôs sobre uma haste; sendo alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze, sarava.
Veja a solução divina: uma serpente de bronze para vencer as serpentes.

A serpente é a personificação do mal na Bíblia: desde a primeira serpente no Gênesis, sua astúcia é sinônimo de planejamento meticuloso para fazer o mal. Seu veneno é como o pecado: doloroso e letal (por isso o poder do veneno se denomina “ardente”). Aparece de repente, e em ocasiões fugir não é suficiente para escapar da sua mordida. É um animal letal.

Mas Cristo veio para nos libertar do poder da serpente, se tornando também maldição por nós.

No texto de João, Jesus se compara com a serpente de bronze, porque aquela foi levantada numa haste, e todos precisavam olhar para ela para receber a cura. Olhar para a serpente era um ato de fé, ninguém conseguiria explicar como olhar para uma estátua traria cura, mas era a fé em Deus o que faria isso.

Paulo vai falar sobre a maldição de Cristo por nós na cruz do Calvário.
Gálatas 3:13  Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro),
Ser morto pendurado num madeiro era uma maldição na Lei (porque temos que voltar ao pó da terra, e o corpo pendurado não tem como fazer isso, daí a importância de sepultar o corpo para o povo de Israel). Mas Jesus usa a serpente para que Nicodemos entenda uma coisa: a missão do Cristo tinha a ver com o pecado, com levar a nossa maldição e seria algo visível a todos.
  • A serpente de bronze sararia todo aquele que olhasse para ela, assim todo aquele que olhar para Cristo com fé seria salvo.
  • A serpente de bronze estava pendurada numa haste, visível aos olhos das pessoas. Assim Cristo morreria na cruz, visível a todos numa morte pública e humilhante.
  • A serpente de bronze traria vida às pessoas, Cristo encerra esse trecho com a frase “para que todo o que nele crê tenha a vida eterna” (v. 15).

Jesus estava mostrando a Nicodemos que o Messias não veio a “salvar” do jeito que eles entendiam: libertar a nação dos opressores romanos e do governo ímpio de Herodes e Pilatos. Jesus veio para salvar o mundo do pecado e da destruição na qual caíram por terem sido mordidos pela serpente antiga: Satanás. Ele venceria o pecado se tornando pecado, levando sobre si as nossas doenças e feridas para que pelas suas feridas sejamos sarados.

Aplicando

Vamos a ver um pouco a sequência do pensamento de Jesus até aqui com Nicodemos:

Nicodemos precisava nascer de novo, uma ação divina no interior do seu ser que não seria produto do intelecto, mas uma ação de fé. Este novo nascimento era o resultado de uma ação do Espírito Santo, que habitava no convertido, fazendo dele uma pessoa livre do poder do pecado, da Lei, da escravidão. Mas a tradição não podia fazer isso, então como poderíamos vivenciar isso? Pois crendo naquele a quem Deus enviou para tomar sobre si todos os nossos pecados, carregando o peso da maldição que nos era nossa, e sendo levantado pelo Pai para que todos possam vê-lo, ou como está escrito “olhai para mim e sede salvos” (Isaías 45.22).

Por isso não há outro caminho, não há outro nome, não tem outra forma para que sejamos salvos da ira de Deus: Jesus carregou sobre si os nossos pecados e levou a nossa condenação. Olhe para Cristo para que seja salvo, e se você já tem a experiência da vida eterna, seja aquele que leve outros a olharem para Cristo. Imagine a pressa de alguém em levar seu parente ou ser querido para olhar a serpente de bronze, agora pense na pressa que temos que ter para que as pessoas olhem para Jesus!

Jesus começa a ser bem explícito enquanto a sua missão. Mas ele vai ir além na sua explicação, já sem figuras para seu aprendiz de discípulo. Até agora o Mestre tem usado figuras de linguagem e exemplos (nascer de novo, nascer da água e do Espírito, dizer o que sabemos, testemunhar o que vivemos, coisas terrenas e espirituais, aquele que desceu, e a serpente de bronze), mas agora será dará um grande resumo de tudo, de uma forma tal que todos possam entender.


[1] (Laird Harris, Gleason Archer, Bruce Waltke, 1998, p. 1363)

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