Uma vida sem sentido?


Na Bíblia, o Livro de Eclesiastes tenta responder um dos grandes dilemas do ser humano: Qual é o sentido de viver? E para começar o discurso, ele já manifesta o tom da discussão: um aparente pessimismo.
Vaidade de vaidades, diz o pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade. Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol? (Ecl 1:2-3)
Para o autor, um filósofo que tem pesquisado sobre a vida desde o olhar de um observador, e as vezes como protagonista, a vida não pode se limitar às rotinas e desejos próprios do consumismo. É interessante como ele vai pondo o esforço humano pela superação e sucesso numa perspectiva mais real do que imaginária: elimina mitos que hoje são pregados pelos livros de auto-ajuda, e é a favor de uma vida mais equilibrada entre trabalho-família-lazer.

Como assim?

Os livros de auto-ajuda mostram que o homem, usando a sua força e vontade interior, é capaz de mudar sua história, para se tornar um ser realizado. O que para o autor de Eclesiastes é vaidade, ou como ele mesmo escreve "é correr atrás do vento".

O sentido de viver do homem não pode ser avaliado pelas conquistas pessoais, isso gera frustração naqueles que não conseguiram estudar numa faculdade ou que vivem em áreas de risco ou de carestia. Da mesma forma, não pode se avaliar a vida pelo dinheiro que possa ter, porque muitas pessoas tiveram que sacrificar pessoas e famílias para escalar até o topo. Não podemos avaliar as pessoas pelas possessões, porque alguns estão endividados para manter esse status social. Igualmente, não pode se avaliar o homem pelo seus estudos acadêmicos, porque seria injusto com as sociedades que tem restrições ao ensino.

Ou seja, não pode se avaliar o sucesso de uma pessoa por aquilo que possui ou faz. Não faz sentido, é injusto e contrário à unidade da nossa raça humana.

E também porque a morte nos une.

Um dos grandes temas do Livro de Eclesiastes é a morte como uma maneira de refletir a nossa unidade como seres humanos, e que não adianta se neste mundo fomos opressores, miseráveis e corruptos. Ninguém vai escapar da morte! Isso é um duro golpe ao nosso orgulho e senso de supervivência, e o autor de Eclesiastes tem prazer de nos lembrar sempre: se fores injusto e a sua vida tem sucesso neste mundo porque você em comprado a justiça, não tem problema: você vai morrer, e terá que prestar contas a Deus por aquilo que você fez.

Assim, vemos que a injustiça não salvará o homem do juízo.

Voltamos então à nossa pergunta: Qual é o sentido de viver?

Salomão parte de um princípio esquecido da nossa sociedade: Simplicidade. Ou como Paulo falou para Timóteo: contentamento.

Se sentir contente com aquilo que a pessoa faz, porque fornece o necessário para a subsistência; se alegrar com a esposa, os filhos e os amigos; ser feliz pelo trabalho honesto que temos; e viver no temor de Deus.

Parece muito fácil para ser verdade. Mas ai temos o segredo de viver.

A felicidade está na paz que temos com Deus, com nós mesmos e com o nosso próximo. E isso é refletido nos nossos relacionamentos, no trabalho, na vida devocional, na existência em geral. Não adianta se esforçar para alcançar uma promoção ao ponto de perder o restante da vida, se no final das contas, não era a vontade de Deus para você. Deve se esforçar, sim, mas sem perder as outras áreas da vida.

Não podemos perder a nossa vida somente por causa do trabalho, da queixa, do pecado, ou da preguiça. Precisamos sermos pessoas que saibam olhar a existência de forma que ela seja integral e não fragmentada: não somos máquinas nem aplicativos.

Por isso, antes de tomar alguma decisão que considere transcendental, pense se realmente vale a pena o esforço que vai investir, se a sua família não vai ser afetada ao ponto de você esquecê-los, se deixará de se relacionar com os seus amigos por causa disso, e se principalmente você vai perder seu relacionamento com Deus.

Porque as conclusões do autor de Eclesiastes se resumem nestas frases:

Vai, pois, come com alegria o teu pão .e bebe o teu vinho com coração contente; pois há muito que Deus se agrada das tuas obras. Sejam sempre alvas as tuas vestes, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça. Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vida vã; porque este é o teu quinhão nesta vida, e do teu trabalho, que tu fazes debaixo do sol. Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças; porque no Seol, para onde tu vais, não há obra, nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma. (Ecl 9:7-10)
Além disso, filho meu, sê avisado. De fazer muitos livros não há fim; e o muito estudar é enfado da carne. Este é o fim do discurso; tudo já foi ouvido: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é todo o dever do homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau. (Ecl 12:12-14)
Que Deus te abençoe, e que possas alcançar o sentido de viver na perspectiva do Eterno!

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